sábado, 29 de setembro de 2018

Os católicos de hoje

Artigo atualíssimo do Beato Anacleto González Flores (1888 - 1927), mártir cristero, publicado no semanário católico-social La Palabra, em 5 de maio de 1918. 




Se fosse necessário traçar um quadro que revelasse mais ou menos a fisionomia dos católicos de hoje, seríamos obrigados a dizer que são pessoas que, em sua maioria, têm se despojado do elemento essencial da vida cristã, para ficar com apenas algumas manifestações externas, que quase sempre se cumprem mais por rotina do que por qualquer outra coisa. Assistem ao santo sacrifício da Missa mais pelo fato de ser um costume longamente enraizado; e vez ou outra vão à confissão ou comungam para não contrariar abertamente a mãe ou a namorada, e fora desses atos religiosos que nada valem, por causa do espírito com que são praticados, não fazem outra coisa senão procurar diversão e consagrar principalmente os dias destinados a Deus ao maior número de deleites. 

Assim, quase todos os católicos de hoje levam uma vida praticamente pagã. Relegaram ao esquecimento aquilo que é fundamental no Cristianismo (o amor a Deus e o amor ao próximo) para ficar com algumas quantas fórmulas que, por carecerem do substancial, não têm valor nem significação alguma. Ser católico é ser discípulo Daquele que passou pelo mundo fazendo o bem e consagrando todos os instantes de sua vida mortal a amar a Deus a ajudar os demais. Isso é ser católico não só de palavra, mas de verdade. De fato, isso é o cumprimento religioso da nossa missão com homens e como cristãos.

É por isso que, se os católicos de hoje querem merecer esse nome, devem começar por deixar de fazer os grandes males que estão fazendo com seu exemplo, porque é claro que, se o exemplo dos ímpios e dos inimigos da verdade é demolidor, com maior razão o será o dos que se dizem filhos fiéis da Igreja, mas, por causa de seus atos, acabam sendo modelos de corrupção e de iniquidade. Nada é tão frequente como encontrar pessoas que se jactam de ser católicos audazes e determinados, mas só de palavra, pois na primeira oportunidade vemo-los entrando em um cinema ou pagando para que almas sejam corrompidas, ou frequentando algum baile, de modo a pisotear o pudor, ou continuar ostentando, apesar das múltiplas exortações dos sacerdotes, trajes que não revelam outra coisa senão uma debilitação do sentido moral e grande falta de respeito para com a honestidade natural.

Por toda parte, vêem-se católicos degenerados rendendo homenagem suprema de adoração a Deus com a inteligência, mas escarnecendo Dele e pisoteando-O com seus atos, que são uma contradição viva das doutrinas que professam. E são esses os mesmos que se espantam com a perseguição da Igreja, com o ódio a Cristo, com as blasfêmias e com a impiedade que inunda tudo como um imenso rio que transborda; pois tenham claro que as gerações, por cima do influxo das ideias, são formadas a partir do contato entre os fatos e com o exemplo dos demais; portanto, se os católicos, muito longe de viver sua fé e de observá-la o mais estritamente possível em seus atos, continuarem, como têm feito até agora, agindo em oposição mais ou menos aberta a ela, com suas doutrinas e seu critério, continuarão sendo responsáveis pela profunda depravação que imobiliza nossa sociedade e que, se é resultado de más ideias, não deixa de sê-lo também dos exemplos corruptores.

Por ora, já que a desmoralização é tão grande, devemos ao menos nos esforçar resolutamente para deixar de fazer o mal e para não contribuir com a degeneração das massas, em razão de uma conduta corrompida. Comecemos com a não realização do espetáculo vergonhoso que é o viver pagãmente; tenhamos coragem suficiente para não ir a lugares onde a moral é pisoteada e os costumes são depravados. Quando estivermos fora de casa, procuremos fazer com que, por meio dos trajes e das relações sociais, seja refletida a doutrina salvadora do Cristianismo, ao menos para que não continuemos sendo responsáveis pela decadência da sociedade.

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