Em meio ao otimismo exacerbado dos neoconservadores e do medo histérico e coletivo da esquerda, sigamos a Igreja, nossa Mãe e Mestra
Bolsonaro visitou o arcebispo do Rio de Janeiro, Dom Orani Tempesta, no dia 17 de outubro e firmou compromisso com os valores católicos |
No último domingo (28), dia de Cristo Rei no calendário litúrgico tradicional, o Brasil assistiu, tenso, uma histórica eleição. De um lado, Jair Bolsonaro (PSL), candidato sem o apoio da grande mídia, achincalhado pela esquerda, com poucos recursos financeiros para bancar a campanha, reforçando os valores da família, da vida, da propriedade privada, da subsidiariedade - “mais Brasil, menos Brasília” – e falando sobre Deus acima de tudo. Do outro lado, Fernando Haddad (PT), com um plano de governo bolivariano, totalitário, destruidor da família, aniquilador da vida humana pela promoção do aborto, louvado como tolerante e sob as aparências de bom moço.
As urnas deram a vitória ao primeiro, acabando com a hegemonia da esquerda no poder que já durava décadas, numa falsa alternância entre a centro-esquerda social-democrata PSDBista e a esquerda populista petista. Os revolucionários reagiram com a histeria de sempre: “vai ter luta, seremos resistência!”. Aparentemente, o sistema democrático só é saudável e bom se elege alguém alinhado às suas ideologias pérfidas.
O brasileiro, povo cujo conservadorismo católico e ibérico ainda está moribundo, aos poucos desperta. Entretanto, observando a euforia dos setores mais à direita e a histeria daqueles à esquerda, decidi escrever o artigo presente, destinado aos irmãos de fé, mas certamente não desprezível aos demais, a fim de apontar e ponderar fatos que passam despercebidos em momentos de apaixonado calor político.
Em primeiro lugar, é preciso considerar que a esquerda obteve algum sucesso eleitoral: 47 milhões de votos, governadores no Nordeste, a maior bancada da Câmara (PT). Em geral, vimos o establishment seriamente prejudicado após a votação; mas é fato que a esquerda atrapalhará o novo presidente de todas as formas possíveis, com audácia e utilizando-se de variados artifícios. Além do mais, vemos hoje a formação da esquerda do futuro, representada em grande parte pelo PSB e pelo PDT, ambos integrantes do Foro de São Paulo.
Em segundo lugar, muitos atribuem o fenômeno Bolsonaro a um ou outro personagem, idolatrando líderes que, apesar do papel que desempenharam, estão um tanto distantes do que a Doutrina da Igreja, social, econômica e politicamente falando, prega, e estão igualmente distantes da realidade histórica e sociológica do Brasil, inspirando-se num conservadorismo anglo-saxão que é, em inúmeros pontos, diametralmente oposto às nossas raízes católicas e lusas.
Em terceiro lugar, faz-se necessário dizer que Bolsonaro está cercado por liberais e maçons. Se o comunismo foi veementemente condenado pelos papas, o liberalismo e maçonaria também foram, e de maneira clara: Gregório XVI, Pio IX, Leão XIII, São Pio X o fizeram através de numerosas encíclicas; diversos prelados e sacerdotes, como o pe. Henri Delassus e pe. Félix Sardá y Salvany, escreveram obras magistrais sobre o tema, além de inúmeros leigos de boa reputação. Convenientemente, boa parte da direita dita católica parece olvidá-los.
É verdade que o governo Bolsonaro possivelmente dará mais espaço aos católicos, ainda que sob os auspícios liberais. O que os católicos fiéis à Sã Doutrina devem fazer para aproveitar a oportunidade, sem caírem na cegueira demasiadamente otimista ou na histeria? Trago abaixo meras sugestões de ação.
Antes de qualquer coisa, o católico deve estar consciente de que a oração e a vida espiritual são anteriores à atitude exterior. Somos meros instrumentos de Deus e devemos estar unidos à Sua Santa Vontade, o melhor que pudermos. Decerto a batalha de Lepanto teria um resultado catastrófico se a armada católica tivesse confiado mais em suas próprias forças que em Deus, através do Santo Rosário. Mais ainda: a corrupção de um dos membros do corpo é prejudicial ao todo; a mão é deficiente se lhe falta um dedo, ou se o mesmo tem suas funções reduzidas por ferimentos. Assim, a vida na graça é essencial. Comecemos a transformação do país pela transformação de nós mesmos, pois, mais que uma crise política e econômica, passamos por uma crise moral, verdadeira crise de santos.
Devemos manter a vigilância, primeiramente interna, para evitar a confusão que o pecado causa na alma, tal qual o navio em mar tempestuoso. Externamente, a vigilância se dará no combate às mentiras. Os inimigos da Fé e da Pátria nunca descansam. Uma ilustração disso é a insistência no tocante ao aborto pelas mais distintas vias, especialmente a judiciária. A eleição está ganha, mas a guerra perdura: a esquerda precisa ser respondida sem subestimá-la, nem sempre com chavões e piadas, mas com a inteligência e obras profundas, e os liberais, num futuro não muito distante, também necessitarão de contraponto. O país precisa de uma elite intelectual católica que conheça seus inimigos, e mais: que conheça o Brasil. Ademais, são as elites que governam as nações.
Assim, cabe ao católico já firme na fé estudar a doutrina comunista e a liberal, conhecendo o modus operandi de ambas, tendo em mente que o liberalismo conquista espaço nas leis e na sociedade por um movimento por vezes imperceptível, alterando seu propósito conforme o nível de degradação daquele povo: da separação Igreja X Estado veio a separação Igreja X família e agora Igreja X indivíduo; do casamento como mero contrato veio o divórcio e a posterior aceitação da união homossexual; da liberação de meios anticoncepcionais artificiais veio a liberação do aborto; etc. Também importa ao católico brasileiro estudar seu próprio país, sua história e sua cultura. Há bons autores que caíram no quase esquecimento, entre eles José Pedro Galvão de Sousa e João Camillo de Oliveira Torres.
Cabe igualmente aos católicos, especialmente aos representantes eleitos e aos integrantes dos vários centros formados e em formação, aproximar as propostas inspiradas no ensinamento da Igreja das figuras públicas, a fim de influenciar diretamente o governo. Não podemos ser apáticos, como alguns quiseram ser no período eleitoral, abstendo-se do apoio ao mal menor. Além disso, como o Reinado Social de Nosso Senhor Jesus Cristo depende de uma estrutura com base sólida para atingir o topo posteriormente, é necessário pensar em iniciativas de catequização do povo, ludibriado por um clero em larga medida conivente com a destruição das almas, para que conheça a Sã Doutrina, e colocá-las em prática desde logo.
Tenhamos sempre em mente que Nosso Senhor Jesus Cristo é Rei e devemos dar o que Lhe pertence por direito, como Criador de todas as coisas, sendo Homem-Deus, e por conquista, uma vez que resgatou-nos pelo Seu Preciosíssimo Sangue. Não é, portanto, a construção de uma situação nova e que os inimigos chamam de utópica, mas o justíssimo reconhecimento do que já existe. Animados pela confiança inabalável na Santíssima Virgem de Aparecida, padroeira da nossa amada nação, não cansemos de lutar pelos direitos de Deus em um mundo cada vez mais inundado de laicismo e das falsas liberdades e falsos direitos do homem.
P. S.: Não nos esqueçamos de, assim como rezamos pela derrota do mal iminente nas eleições, colocar dia após dia em nossas preces o novo governante do Brasil, Jair Messias Bolsonaro, e todos os demais parlamentares e governantes eleitos.