quinta-feira, 3 de outubro de 2019

O mundo precisa de silêncio

Breves reflexões para a atualidade turbulenta


O silêncio dos mosteiros, em especial nos mosteiros cartuxos, é essencial para a elevação da alma


Silêncio, a ausência de ruído. Como essa palavra é importante para nós: antes de tomarmos qualquer decisão importante, ficamos em silêncio; na conversa entre amigos, quando um falará, pede ou espera o silêncio dos demais; para estudar, precisamos do silêncio; para dormir, desejamos silêncio. Inúmeras situações evidenciam que há algo de imprescindível no mesmo.

Façamos um rápido experimento de nos colocarmos em silêncio por alguns minutos e veremos a consciência tomando seu assento como juíza, ponderando os feitos e os frutos do dia, as ações a serem empregadas no futuro e, se o silêncio for prolongado, refletiremos até sobre questões mais profundas. Não raro isso acontece, aliás, quando estamos deitados (e em silêncio!), prontos para repousar e o sono não nos encontra. Um turbilhão de pensamentos e ideias, geralmente sobre o dia que se passou, toma conta das nossas mentes.

Tal é o poder do silêncio: a consciência, nele, encontra espaço para falar abertamente pelo tempo que a deixarmos falar. Quem fica em silêncio não foge da própria consciência.

Entretanto, também é fácil constatar que vivemos em tempos barulhentos. Aqui, podemos distinguir duas espécies de barulhos ou ruídos: os involuntários e os voluntários. Ruídos involuntários são aqueles aos quais estamos expostos por necessidade - por exemplo, os motores dos carros, as sirenes de polícia, o burburinho das pessoas à nossa volta. Ruídos voluntários são aqueles aos quais nós mesmos nos expomos por vontade própria - por exemplo, escutar música, assistir à televisão e assim por diante.

Como o triunfo do barulho é patente nos dias atuais? Fora do lar, especialmente, os ruídos involuntários nos assaltam até mesmo nas igrejas, onde antes reinava o silêncio e, desde algumas décadas atrás, ele desapareceu de lá; dentro do lar, adoramos a falsa companhia da televisão e frequentemente estamos com fones de ouvido. A maior parte dos jovens frequenta festas barulhentas e escuta cacofonia à qual chamam de música.

O resultado, deduzível do que acima esclareci, é o que se segue: a consciência cada vez é mais afastada, o silêncio passa a ser incômodo. A falta de silêncio induz o homem ao coma, mais ou menos perceptível de acordo com o grau de esfumaçamento da consciência, consciência essa que todo homem naturalmente possui de evitar o mal e praticar o bem.

Esse esfumaçamento é produto da ignorância e distorção que o homem libertino dispensa a tal diretriz. Resultado contrário é adquirido pela virtude.

Sem o império do espírito e da razão como juízes das atitudes, conquistado/reforçado pelo exercício do recolhimento/silêncio, o sensível passa a governar. Despoja-se o homem daquilo que lhe faz ser homem: animal racional. Daí os vícios, os crimes, a barbárie. Daí o comportamento de rebanho, cegos guiando cegos para as modas e as ideologias mais absurdas e inimagináveis para qualquer mente sã.

A sociedade em ruínas é, não coincidentemente, a sociedade do ruído.


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