quarta-feira, 10 de outubro de 2018

O que é patriotismo?

Definição extraída do Dicionário de Política, por José Pedro Galvão de Sousa, Clóvis Lema Garcia e José Fraga Teixeira de Carvalho

É o amor à Pátria.

Brota espontaneamente e é ditado pela lei natural. Ama -se a Pátria na mesma linha do amor à própria família. Porque nela palpitam sentimentos comuns traduzidos em laços que prendem as pessoas por habitarem o mesmo chão, falarem a mesma língua, defenderem a mesma cultura, viverem a mesma história. Todo um patrimônio espiritual, constituído pelas gerações que se vão sucedendo, toma a Pátria um lar comum, onde as lutas, as dores, as alegrias, testemunham um amor em que se mesclam respeito e veneração, gratidão e sacrifício, dedicação e imolação. Prolongamento da família, a Pátria fraterniza as pessoas, que sentem, mais do que percebem, a importância de manter vivo o ideal de assegurar, proteger e engrandecer a terra do próprio nascimento, onde se pode sonhar e pugnar por viver com dignidade. Na defesa desse ideal, o amor à Pátria chega ao extremo do holocausto da própria vida. 

No 2º século do Brasil, a Pátria nascente fremia no peito daqueles combatentes - brancos, negros e índios - que, ao canto da "Salve Rainha", enfrentavam o invasor holandês, usurpador da terra e da Fé, na Bahia e em Pernambuco. É a Pátria que ilumina, rege e dignifica a carreira das armas, fazendo do patriotismo a virtude maior do militar. 


Batalha dos Guararapes (Victor Meirelles, 1875-79)


O amor à Pátria é vigilante, está atento às manifestações e à movimentação de seus inimigos. Dentre estes, o marxismo, quer na etapa medial socialista, quer na etapa final comunista, é o corrosivo mais eficaz do sentimento de pátria. Para o marxismo só existe a pátria ideológica, sendo as pátrias vivas meras reminiscências de elos familiares primitivos que devem ser destruídos para dar lugar ao internacionalismo. O individualismo e o anarquismo são duas facetas de um outro inimigo, o egocentrismo, que leva a instalar-se nos próprios apetites, e incapacita para ver e sentir o bem comum da Pátria. Inimigo é também o partidarismo, encharcado de voracidade pelo poder, ao sectarizar o patriotismo – que independe de facções - a fim de capitalizar forças com vistas a alcançar vitórias eleitorais. O amor à Pátria, por deitar raízes no essencial e perene, transcende os ideologismos, os egoísmos, os sectarismos. Funda-se a legitimidade do patriotismo em valores entroncados no ser do homem, que permanece imutável. Daí a perenidade do amor à Pátria, que em certos países da Europa parece morto, mas na verdade enlanguesce sob a mortalha do consumismo e do hedonismo, aguardando a hora de ressurgir. Porque, na verdade, tão natural é o amor à Pátria, que chegou a pungir no coração humano de Jesus Cristo, quando, contemplando Jerusalém, chorou ao antever-lhe a destruição. 

Leão XIII (Papa, de 1878 a 1903), na encíclica Sapientiae Christianae, afirma com todas as letras: 
"A lei natural ordena-nos que amemos com amor de predileção o país em que nascemos e nos educamos." 
E detalha Ramiro de Maeztu (1874-1936), a respeito do patriotismo: 
"É insuficiente o patriotismo que se refere apenas à terra e aos compatriotas, embora seja muito proveitoso estimulá-lo quanto possível. Será coisa excelente que os homens se enterneçam com a lembrança da paisagem natal, acreditem serem as mulheres de sua terra as mais belas do mundo, ponham toda a confiança na honradez e virtudes de seus patrícios, estejam certos de não haver alimentos comparáveis aos de sua região. Também são valores os valores biológicos, que contribuem para a felicidade dos povos. Poder-se-á mesmo dizer que com a consciência de tais valores se forma o patriotismo da pátria pequena, da terra natal. Mas o que forma a pátria única é · um nexo, uma comunidade espiritual, que se torna, ao mesmo tempo, um valor de História Universal" (Defensa de la Hispanidad, Madrid, 2ª ed., 1935, p. 235). 
Comum, entre os espanhóis, é a expressão patria chica, pátria pequena, "patriazinha" - como se encontra no texto de Maeztu – para significar o lugar, o povoado, a cidade, a província, a região, onde se nasce. Na verdade, a germinação primeira de afetividade ocorre e se desenvolve na convivência inicial com vizinhos e avizinhados, num torrão pequeno. É o amor à "pátria pequena", que se amplia, depois, envolvendo a "pátria grande". 

Não há confundir patriotismo com chauvinismo, que o deforma. ao promover uma exaltação desmedida de tudo quanto se refere à própria pátria, apoucando e menosprezando o que concerne às demais. Como o amor à pátria é inerente a todo homem, a sensatez manda respeitar as outras pátrias e o sentimento patriótico dos outros. Até mesmo porque o patriotismo não exclui o universalismo, que implica procurar caminhos de fraternização que levem as pessoas a cooperar na dignificação da vida humana em todos os quadrantes.

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